sábado, 12 de novembro de 2022

MULHERES QUE FIZERAM HISTÓRIA * José Estanislau Filho - MG

 MULHERES QUE FIZERAM HISTÓRIA 

<a target="_blank" href="https://www.amazon.com.br/b?_encoding=UTF8&tag=antoniocab066-20&linkCode=ur2&linkId=1730d5b0e4a4a2752b35e772f55c380a&camp=1789&creative=9325&node=7841731011">pagu</a>


Entre muitas que dedicaram sua vida pela emancipação e igualdade de gênero, destaco algumas em uma homenagem simbólica ao legado de todas. Momento de erradicarmos o machismo e o patriarcalismo.

 

PAGU


(1910-1962)


O nome de Pagu é rapidamente associado a transgressões e ao feminismo brasileiro. Por registro Patrícia Rehder Galvão, ela nasceu no interior de São Paulo, mas cresceu na capital paulista. Foi na metrópole que confrontou os costumes, numa época em que a sociedade impunha para as mulheres somente o papel de boa esposa, mãe e dona de casa. Também iniciou sua vida política e no socialismo.

Nas artes, sua versatilidade e rebeldia resultaram em cartas, artigos, poesias e outras criações. Se filiou ao Partido Comunista Brasileiro e foi, inclusive, morar numa vila operária. Visitou a China e a União Soviética, mas com o passar dos anos de militância se tornou uma das primeiras críticas do socialismo real e também do sectarismo da “proletarização” a que foi submetida no PCB. Por outro lado, sempre lembrou com emoção do companheirismo que vivenciou nos encontros do partido

José Estanislau Filho-MG

domingo, 31 de janeiro de 2021

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domingo, 22 de março de 2020

Olha o Verdureiro! * J Estanislau Filho - MG

Olha o Verdureiro!



Esta crônica foi escrita em 1994. Relutava publicá-la, pois, como se sabe, o gênero retrata um momento. Eis que a cena está de volta. Faz parte do meu livro de bolso, Crônicas do Cotidiano Popular - edição do autor - 2006 - esgotada.




Todo dia ele sai com seu carrinho de mão, lotado de verduras. Sai gritando pelas ruas: - Olha o verdureiro!
  Sua chegada acontece em boa hora, para definir o cardápio do dia. Pronto: - nada de frango, hoje vamos comer couve com torresmo e angu – diz alguém na cozinha.
 No início o grito e as batidas no portão (nem todos têm interfone) incomodavam, pois podíamos estar no banheiro ou com uma panela no fogo. Mas fomos nos acostumando, a tal ponto, que quando chega lá pelas dez horas, sentimos sua falta.
  Seu grito ecoa em nossos ouvidos. Às vezes ele tarda e falha. Pode estar percorrendo outras ruas do bairro.
  Nestes tempos de modernas tecnologias, quando se compra de quase tudo sem sair de casa, pela internet ou pelos tele-vendas, estranho que ainda não tenha surgido no mercado os tele verduras. Ainda dependemos do verdureiro com o seu arcaico carrinho de mão. Contudo, hoje ele faz parte do nosso cotidiano. Bendito verdureiro que nos poupa o sacrifício da caminhada ao supermercado ou ao sacolão em busca de um pé de alface.
 É, mas é bom irmos colocando as barbas de molho, pois, segundo o Presidente da República, o país não pode conviver mais com modelos ultrapassados, precisa se modernizar. “Quem pode, pode, quem não pode se sacode”, diz o dito popular.
 Por conta desta tal “modernidade globalizada”, com o desemprego aumentando a cada dia foi que o nosso irmão verdureiro buscou uma saída, para ganhar o seu pão de cada dia. Também conhecida por “atividade informal”, uma maneira sutil e cínica de classificar o cidadão desempregado e sem carteira assinada, sem eira nem beira, que tenta se agarrar a uma tábua de salvação, para escapar do naufrágio da fome.
   Não sabemos até quando ouviremos o grito:

OLHA O VERDUREIRO!

J Estanislau Filho
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sábado, 21 de março de 2020

A BOCA DO VENTO: Uma eterna fonte inspiradora * João Rodrigues Pinto - SP

A BOCA DO VENTO: Uma eterna fonte inspiradora


-tripadivisor-

“João Pinto, de onde nasce a inspiração para escrever seus livros?” - Volta e meia alguém faz essa pergunta, quando o assunto é literatura. Ora, a resposta não poderia ser mais óbvia. Toda a minha inspiração nasce das memórias de Gado Bravo, atual Licínio de Almeida, minha terra natal. Ali, eu vivi a infância e adolescência, correndo, pés no chão, atrás das pipas, brincando de bandas musicais, circo, filmes, pique-esconde ou subindo nos galhos das frondosas mangueiras do quintal lá de casa. Liberdade, alegria, poesia, teatro e faz de conta na rua mais antiga da cidade, que depois virou rua da lagoa, depois rua de baixo e, finalmente, sem qualquer conotação cultural, foi batizada de rua Coronel Gasparino David. Eu, que tenho apreço pela semântica e a metáfora, prefiro “boca do vento”, nome original, onde o vento frio de junho, fazia a curva da lagoa e soprava aos nossos ouvidos os seus mistérios e encantos. 
E foi assim. Nasci ali, onde a cidade começou e hoje, meu peito ainda arde de saudade daquele tempo realizador, barulhento, cantante... Saudade das prosas temperadas com a pimenta e o afeto de dona Emília, mãe de Gildásio, aquele que ainda menino, aprendeu a tocar o sino da Igrejinha com maestria. Aos domingos, o sino batia suas badaladas, convidando os fiéis para a missa, mas quando morria alguém, as badaladas eram diferentes, fúnebres, lentas, tristes, compassadas. Lá de casa, minha mãe debruçada no tanque de lavar roupa, pedia silêncio e dizia: “escute, alguém se foi...” 
Ainda hoje sinto saudades de dona Eulina, sorriso fácil, voz rouca e baixa, castigada pelos acessos de tosse, mãos finíssimas e pequenas. Uma senhorinha forte, baixa estatura, corpo frágil e meio curvado, vendedora de saborosas cocadas de leite e pães que o Lolói trazia da padaria de Manoel. No tempo frio, mal o sol da manhã mostrava a cara, dona Eulina atravessava a rua em passos lentos, sentava-se no banco do canteiro, em frente à velha casa, ajeitava o xale azul nas costas franzinas e soltava os cabelos compridos, cor de prata, depois passava o pente entre os fios. Eu corria, sentava-me ao seu lado para ouvir as suas histórias carregadas de emoção. Dona Eulina era a boa vovó da meninada da Boca do Vento. Todos que passavam e a avistavam na janela ou no banquinho em frente, estendia-lhe a mão, pedindo: “bença dona Eulina”, ao que ela, sorridente, respondia: “Sandeus”. Eu achava lindo aquela resposta, cujo significado é simples e profundo: “somos de Deus”.
Na boca do vento eu sempre encontro inspiração para as minhas escritas. Sempre que a visito, (re)absorvo novos detalhes, jeitos, trejeitos, gente, simplicidade e dedos de prosa entre os amigos de ontem e de hoje. A história nasce e renasce, pelo que foi ou poderia ter sido. Historias de gente que vai e que vem, sempre a partir do seu marco histórico: a belíssima Lagoa do Gado Bravo. 
No seu passado glorioso, a nossa rua era de intenso movimento: pessoas para cima e para baixo, resolvendo questões na prefeitura, no cartório de seu Adalberto, na farmácia de seu Mirá, nos feirantes, nas mulheres diante do chafariz, que saíam equilibrando latas d’água na cabeça, como artistas circenses, de sorriso no rosto e força na lida. Tinha o pescado de Zé Maria, Rostil, seu Jeremias, seu Fidelcino, Toninho mãe-racha e outros pescadores de traíra, em volta da lagoa e da represa da rua de baixo.
Quem não se lembra do barulho dos alunos da Escola Julieta ou dos gritos dos doentes mentais que eram trancafiados na fria cadeia, às margens da lagoa? Ainda me lembro dos gritos de Alice, chamando a minha mãe: “me tira daqui comadre Eunice” e dos olhos marejados de lágrimas de Magna, sua filha, que morava conosco, e que ouvia aquele clamor de cortar o coração. Mãe se emocionava, enxugava os olhos e passava a mão sobre a cabeça da afilhada. Um sinal de consolo para aliviar as primeiras feridas que nasciam no coraçãozinho da menina...
E a encantadora Igrejinha de Nossa Senhora da Conceição e suas lindas procissões e quermesses ao som de sanfona, pandeiro, reco-reco e muitos leilões? Dos balaios e cabos de vassouras que Zé Surdo fazia; as chaleiras casco preto, cabo de panelas e as canecas de lata de óleo, fabricadas por seu Antônio Galvão e o corante/urucum que a dona Jovem preparava? Enquanto isso, lá na beira da lagoa, o cheiro de café torrado da casa de dona Emília invadia a rua e os fregueses saiam de lá com a vasilha cheia.
Logo acima, o trecho mais temido pela meninada. Quem nunca sentiu um friozinho na espinha ao passar no escuro das “bananeiras mal assombradas”, ao lado do curral, na chegada do casarão de dona Nena e Antônio Botelho? Era a nossa lenda urbana que parecia verdade, tinha gente que preferia passar pela montanha, mesmo sendo o caminho mais longo e se fosse meia-noite, nem adulto tinha coragem. Hoje não existe curral, bananeira e até o belíssimo casarão foi demolido. A lenda urbana foi sendo esquecida, mas permanece vive nas minhas histórias sobrenaturais.
No início da manhã e no final da tarde, passavam na rua de baixo, caminhões, caçambas e brucks para as minas da pedra preta, ventador, jacaraci e outras. Levantavam tanta poeira que irritavam as nossas mães. E não era sem razão: as casas da boca do vento tinham o piso vermelho cimentado e sempre brilhando com a cera e tome escovão. Quem não tinha, passava o pano com bombril que o piso brilhava e ficava uma belezura. Mas os carros da mineração voltavam no final da tarde, atravessavam a boca do vento, cheios de manganês e descarregavam no pátio da mineração. A gente costumava catar as pedras que caiam das caçambas e no dia seguinte montávamos a nossa mineração. Pacheco, Osmar e Gildásio faziam os carrinhos e eu, Wagner, Roque e Jorge, éramos os motoristas. Era uma festa no quintal lá de casa ou mesmo na beira da lagoa.
Agora, se tinha uma coisa que a gente vibrava, era a chegava do caminhão Bela Vista do seu Zé Amaral. Para nós, aquele furgão imenso, amarelo, era um verdadeiro armazém ambulante repleto de doces que faziam a nossa alegria: pé de moleque, maria-mole, coração de abóbora, sorvete seco; suspiro, geleia, doce de banana, chiclete ploct e ping-pong, embaré e pirulito...E o seu Zé Amaral gostava daquela euforia infantil, nos presenteava com balas e doces, como um Papai Noel fora de época. 
E as saborosas cocadas de dona Maria Rita? A gente gostava da dona Maria, era alegre, toda prosa, mas morríamos de medo da mais velha, a dona Ezupéria: jeito de homem rude, fechado e nunca sorria. Ela tinha fios de barbas e bigode brancos, o que nos deixava intrigados. João Gama e Martinho diziam que ela tinha um facão debaixo do saiote e se qualquer moleque lhe faltasse com o respeito, era capado por ela e os “documentos” jogados para os cachorros. Era mais uma lenda urbana maravilhosa. Verdade ou mentira, o fato é que a gente morria de medo da quase centenária dona Ezupéria.  
Então é isso, a minha inspiração vem desse terra linda, encantadora e aconchegante, onde ainda é comum o bate-papo  na velha e sempre saudosa Licínio de Almeida. Ali existem pessoas que são especiais apenas pelo fato de existirem. Quando elas chegaram  ao mundo, deixaram impresso uma marca diferente, que aos poucos se destacava, no olhar, no sorriso (ou na ausência deste), nos gestos suaves, às vezes imperceptíveis e nas centenas de impressões que formam os olhares, ora carinhosos, sinceros, afetivos, ora piedosos, lamentosos, curiosos, preconceituosos, ora frios, distantes, decepcionados, ora espantados, aterrorizados, desumanos... Curiosamente, essas impressões - às vezes definitivas -, confirmavam o quão especiais elas eram e ainda são.  
Falo de gente que nasce, cresce e morre cercado de uma auréola de simplicidade, beleza, ternura e muita graça. Assim é o povo que fez da lagoa do gado bravo, o seu canto preferido, as suas mais inusitadas histórias. Hoje a rua de baixo está bem diferente, silenciosa, poucas crianças, as famílias já não se sentam nas portas, poucos fazem a fogueira de São João, a Igrejinha está fechada e o sino esquecido... A lagoa resiste, cada vez menor, tomada pela vegetação que esconde as suas águas. Ao seu redor, não existe mais o nosso campinho, a cadeia foi demolida, a velha prefeitura está fechada, o cinema fechou, a farmácia fechou, a feira acabou, o hotel fechou, a escola Julieta fechou, a represa diminuiu e até a casa de dona Eulina já não existe mais... morreram dona Emília, dona Fiinha, seu Duzinho, dona Laura, dona Etelvina, dona Mariinha, Zé Maria, Rostil, seu Jeremias, seu Fidelcino, dona Eulina, dona Maria Rita, seu Antonio Botelho, dona Nena, meu pai Geraldo, meu tio Zé, meu sobrinho Guilherme, minha irmã Tida e tantos outros que fizeram história nessa rua de tantos nomes, mas que permanecem vivos na boca do vento, rua da minha vida e que continua fazendo a curva ao redor da lagoa do gado bravo.
Vida que segue...



João Rodrigues Pinto - SP

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sexta-feira, 20 de março de 2020

Crônica de Itacaré * J Estanislau Filho - MG

Crônica de Itacaré



Os dias que passei em Itacaré foram contraditórios. Não, não foram os dias nem a beleza ao redor. Os dias são como são. A ambivalência é que emergiu das profundezas do meu ser.

Era para ser apenas um passeio. Ver o mar, que há anos não via. Foi o desejo de ver novas paisagens. Queria ficar só, dialogando com as minhas incertezas. Impossível em Itacaré, com tanto chamamento. Convites irrecusáveis. O mar e seus mistérios; moquecas e bobós; a rua Pituba nos convida ao consumo; e o forró em vários pontos: Mar & Mel, Bistrô...

Foi diante da imensidão do mar, que o amor se revelou, enquanto a brisa acariciava minha pele. Havia também os coqueiros, que continuam lá. O mar é um poema imenso. Uma odisseia e não deu a mínima às minhas dúvidas. Me perdi em devaneios em meu revoltoso mar interior. Ao lado estava uma mulher calada. Olhei-a discretamente de soslaio. Cabelos negros e longos, pele azeitonada, mirava o mar sem notar a minha presença. Deixei-a em sua quietude e continuei refletindo sobre o amor. Por um tempo impossível de ser medido eu amei esta mulher e talvez a amasse para sempre. Enquanto isso as ondas iam e vinham. Fortes e suaves. Como deve ser o amor.

Havia um mar dentro de mim.


J Estanislau Filho
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quinta-feira, 19 de março de 2020

Prisioneiro de Axolotle * J Estanislau Filho - MG

Prisioneiro de Axolotle




    Despertei sob o olhar de ouro de axolotle, fixado diretamente aos meus olhos, como se pretendesse vazá-los. Ainda entorpecido, não o percebi de imediato. Esfreguei os olhos com os punhos cerrados e perguntei, o que está fazendo aqui?. Senti, obscuramente, que ele se esforçava para me passar uma mensagem.
     Inteiramente desperto, vi-o afastar-se, com andar desengonçado. Então me lembrei de tê-lo visto no aquário da rua Bahia, com os olhos e bocas colados ao vidro, pedindo-me para libertá-lo daquela prisão.
   Talvez tenha vindo para me agradecer. Compreendi a necessidade de sair da minha clausura.



J Estanislau Filho

Cel Xavier Chaves

quarta-feira, 18 de março de 2020

O DISCRETO CHARME DA BALA DOCE * J Estanislau Filho - MG

O DISCRETO CHARME DA BALA DOCE




Grande gênio o inventor da bala doce. Ela vem fazendo a alegria da garotada há muitos anos. Não há quem resista ao seu charme. Serve de apoio a quem quer largar o cigarro e esconde aquele hálito desagradável, principalmente nos encontros amorosos.

   O tempo passa, as balas ficam. Em supermercados, shopping's e até em bancas de revistas elas estão lá, faceiras. Embora com interesses comerciais, os belos papéis que as envolvem trazem mensagens variadas sobre ecologia, signos, declarações de amor, cantadas explícitas, humor e coisa tal. Atendem aos mais exigentes paladares: sabores abacaxi, mel, lima, limão, menta, maçã-verde, hortelã, etc. Não bastassem, nossas discretas balas servem de troco. Desde os tempos das patacas e dos vinténs, cruzeiros, cruzados elas são moeda forte. Nem o real, que derrubou o dólar conseguiu tirá-las de circulação. O problema é o comércio: obriga o consumidor a levá-la como troco, mas não a aceita de volta. A nossa discreta e charmosa bala doce não merece tamanha falta de consideração.

J Estanislau Filho