sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O LADRÃO DE CALCINHAS * Antonio Francisco Pereira - MG

O LADRÃO DE CALCINHAS

     Antigamente, nas cidades do interior, você tinha o ladrão de galinhas. Um personagem quase inofensivo, que virou folclore e não atemorizava ninguém. Agora, em seu lugar, apareceu nos rincões de Minas Gerais um personagem mais insólito: o ladrão de calcinhas.  Que eu saiba ele ainda não deu as caras em Queluzito, mas já espalhou o terror no Vale do Jequitinhonha. Primeiro na cidade de Capelinha e, mais recentemente, em Turmalina. Especialista em escalar os varais que ficam secando roupa no quintal das casas, ele já surrupiou mais de mil peças íntimas femininas. Uma senhora coleção, que faria inveja ao saudoso cantor Wando.
     Conforme descobriu a polícia local, a casa do larápio era um celeiro de calcinhas e sutiãs. Se fosse uma árvore de Natal, seria mais frondosa que a de Rockefeller Center. Mas ele preferia acomodar a maioria das peças debaixo da cama e no meio dos lençóis, para não perder o contato com a maciez e o perfume que emanava de todas elas, revelando, cada qual, uma história de intimidade e luxúria. Dormia abraçado com uma e acordava com outra, como se tivesse feito a maior orgia durante a noite. Aliás, quando foi detido, ele vestia uma delas, a sua preferida no momento: uma calcinha fio dental com regulagem e frente rendada. 
     A prisão do malfeitor tranquilizou boa parte das vítimas, que não precisaram mais dar explicações mirabolantes sobre o sumiço de suas lingeries. Explicar ao marido que a calcinha sumiu no varal implica o mesmo grau de dificuldade que o homem tem para explicar o batom na cueca. Não é fácil.
    Mas, infelizmente, eu acredito que essa tranquilidade das mulheres vai durar pouco. Com a decisão do nosso Supremo Tribunal de que, enquanto houver recurso não há cadeia, logo, logo, vai chegar um habeas corpus para liberar o apanhador de calcinhas do Vale do Jequitinhonha. E provavelmente ele vai querer recomeçar a coleção desses objetos de desejo. Já fez isso uma vez. 
    Então, aqui vai meu conselho a essas encantadoras mulheres de Minas: ou tirem a roupa do varal ou coloquem chip nas calcinhas. Melhor não arriscar.

   Antonio Francisco Pereira - MG

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